Estamos muito satisfeitos por podermos partilhar a edição de um boletim informativo sobre as actividades dos membros da Associação. Celebramos e retomamos com entusiasmo a tarefa de divulgar e mobilizar a investigação e informação sobre a América Latina e as Caraíbas. Os últimos dois anos da pandemia ensinaram-nos grandes lições sobre a capacidade da comunidade e das redes sociais para prestar cuidados e atenção abrangentes, para além dos recursos do Estado, e apesar das políticas oficiais de saúde. Honramos o grande esforço feito pelas nossas famílias, amigos, conhecidos e aliados que colocaram no centro as questões de dignidade, iniquidade e saúde, o que nos inspira a retomar com novo vigor a missão de divulgar a investigação recentemente desenvolvida que responde de forma crítica e analítica à compreensão das principais questões políticas, sociais, políticas e económicas que afectam a sociedade na América Latina e nas Caraíbas.

Como observadores e estudiosos interessados no desenvolvimento da região - e na sua relação com o Canadá - estamos preocupados com a intensificação dos processos sócio-políticos e económicos que geram múltiplas formas de violência, despossessão material, deslocação e desaparecimentos forçados, e a morte social de grandes sectores marginalizados e racializados da população da América Latina e das Caraíbas. Em termos gerais, apelamos à continuação de estudos especializados sobre questões como a violência narco-criminosa, história política, autoritarismo do Estado, conservadorismo político, exploração dos recursos naturais, projectos extractivistas, militarização das zonas fronteiriças, deslocamentos internos forçados, violações dos direitos humanos contra a população em geral, e em particular contra os defensores do ambiente e do território indígenas e afrodescendentes.

Com especial ênfase gostaríamos de nos referir ao que foi publicado nos últimos anos sobre a América Central, uma região particularmente afectada pelas alterações climáticas, desflorestação, violência criminosa e a presença de projectos extractivos e mineiros. Para além destes fenómenos e processos sócio-estruturais, práticas repressivas e violentas de governos autoritários explicam os fluxos migratórios de centenas de famílias para a América do Norte. O Canadá não é estranho a este fenómeno migratório, uma vez que recebe uma significativa população centro-americana em busca de refúgio.

As Honduras, por exemplo, são um dos países mais perigosos do mundo para os defensores da terra e do ambiente. O golpe de Estado de 2009 marcou o início de uma década de repressão política e de violência, de apropriação de terras e de destruição ambiental. Agora parece haver um lampejo de esperança após a eleição do novo Presidente Xiomara Castro, que declarou as Honduras livres de minas a céu aberto. Verdadeiramente um momento histórico - dados os assassinatos, perseguição e criminalização dos líderes comunitários que resistiram. Resta encontrar mecanismos eficazes para desafiar a impunidade, a militarização, e o poder das elites económicas. Em territórios como o Vale de Bajo Aguan, o terror exercido pelos militares e paramilitares sob o comando de grandes empresas aumentou desde que Castro chegou ao poder. 

Na Colômbia, a procura de justiça no quadro do processo nacional de reconciliação pós-conflito enfrenta muitos desafios, na sua maioria derivados da violência endémica que tem caracterizado o país e se reflecte em estatísticas preocupantes sobre deslocações internas, assassinato de líderes sociais e numerosas violações dos direitos humanos, políticos e etno-territoriais de centenas de milhares de famílias indígenas e afro-descendentes. As eleições nacionais do passado domingo 29 representam um momento histórico na vida do processo político colombiano e dos movimentos populares no país, uma vez que os candidatos presidenciais progressistas têm inspirado esperança de mudança face aos candidatos tradicionais. Gustavo Petro - um candidato progressista de esquerda - e Francia Márquez Mina - uma líder ambientalista afro-descendente - obtiveram um histórico de 41% do eleitorado na primeira "volta" das eleições de 29 de Maio. Este bilhete presidencial/vice-presidencial representa uma "voz popular" que desde as margens tem vindo a pressionar para os Acordos de Paz na Colômbia desde 2016, e procura agora alcançar uma verdadeira reforma social. A lei eleitoral estabelece que é necessária uma maioria de 50%+1 para ganhar a presidência. O processo eleitoral passa assim para uma segunda volta (19 de Junho) na qual as fórmulas presidenciais/vice-presidenciais com o maior número de votos entrarão numa corrida final, estabelecendo onde a ênfase será colocada nos direitos humanos, na paz, no conflito e no desenvolvimento no caminho que se avizinha.

Pelo seu lado, o México enfrenta uma crise humanitária e de direitos humanos generalizada como resultado de uma guerra frontal falhada contra o crime organizado, que em vez de eliminar o tráfico de droga provocou, em particular, a proliferação e atomização de sub-cartéis, e um clima generalizado de macro-criminalidade onde a busca de justiça e paz se revela inatingível. As esperanças de mudança depositadas no candidato de esquerda Manuel López Obrador neste terceiro ano do seu mandato começam a desvanecer-se, e estão a transformar-se numa pesada dúvida sobre a fórmula do governo para inverter a deterioração do país em termos humanos e sociais.

Convidamo-lo a consultar o boletim informativo online para ofertas de leitura especializada, actividades de geminação e colaboração entre professores e estudantes, e as várias actividades académicas que estão no horizonte para 2022.